top of page

28 de abr. de 2025

Você Não Falhou: Foi a Escola que Não Soube Medir Você

Por Tamara Rodrigues


Notas não medem genialidade. E talvez o seu maior erro tenha sido confiar nelas!


Há algum tempo, ao acompanhar os estudos de minha afilhada Dominick, deparei com uma questão de aparência banal, mas cuja estrutura revela um vício profundo no modelo pedagógico, a questão do livro didático dizia: "Imagine todos os animais possíveis nesta imagem". A imagem era uma floresta com um lago e os professores esperavam respostas dentro de um certo padrão — animais típicos daquele habitat, previsíveis. Mas se uma criança libertasse sua imaginação e pensasse em dragões, pinguins ou criaturas ainda não descobertas? Estaria ela errada? Ou simplesmente vendo além do que foi delimitado? E se a criança nem fosse capaz de enxergar uma pergunta e apenas imaginasse?


Essa situação, que parece trivial, diz muito sobre o que discutimos no Guia dos Apodícticos: a dificuldade de se responder perguntas cuja formulação já parte de um pressuposto limitado ou até mal construído. Às vezes, a pergunta está errada — ou, mais profundamente, está presa a um tipo de lógica que exclui múltiplas verdades ou como neste caso nem existe uma pergunta.


Na escola (e na vida), não aprendemos a questionar a pergunta, se são questionamentos válidos, bem formulados, se buscam respostas úteis e relevantes. Aprendemos a entregar a resposta “certa”. E, muitas vezes, quem tem um raciocínio mais complexo, mais crítico ou mais inventivo, é justamente quem trava na pergunta simples — não porque não sabe a resposta, mas porque vê camadas, possibilidades, incoerências.


No Guia dos Apodícticos, defendemos a tese de que muitas perguntas, em sua essência, estão “erradas”. Ou, na melhor das hipóteses, partem de premissas que limitam a análise e, às vezes, até excluem a resposta que seria a mais adequada. Nos níveis mais altos, a inteligência não se manifesta apenas na resposta correta, mas na habilidade de perceber que a pergunta apresenta falhas. A capacidade de questionar a estrutura da questão é uma demonstração de um raciocínio superior, pois desafia o arcabouço lógico dentro do qual a maioria se acomoda.


O sistema educacional não exercita essa capacidade e ainda desestimula quem age assim. O sistema treina para aceitar, para obedecer, para seguir.


Vou ilustrar com um episódio ocorrido em um dos semestres do meu curso de Engenharia Ambiental, no qual fui forçada a cursar “Algoritmo e Programação” com uma turma composta exclusivamente por estudantes de Engenharia da Computação ou Ciência da Computação.


Naquela época, programação parecia um mundo muito distante para mim. Só tive acesso a um computador quase aos 20 anos, já trabalhando, sem tempo livre para explorar ou aprender sozinha. Minha formação técnica era voltada para laboratório, o que me colocava em realidades muito diferentes das dos meus colegas, que já estavam profundamente ligados à computação. Enquanto eles dominavam linguagens de programação, os 'códigos' que eu conhecia eram equações estequiométricas e estruturas atômicas — códigos da matéria, não da máquina. O abismo entre mim e meus colegas era evidente: eles falavam a linguagem da máquina, eu mal compreendia seus símbolos. Eles, preparados por anos de estudo técnico e prática na implementação de programas; eu, enfrentando meu primeiro contato real com códigos.


Hoje tenho experiência na implementação de programas em JavaScript e Python, mas na época meu conhecimento era muito inferior ao de qualquer colega daquela turma. Mas, ironicamente, fui eu quem obteve a maior nota na primeira avaliação!  Por quê? A resposta é porque entendi o que era exigido: decorar, replicar, moldar a resposta ao que a professora esperava ler. Não era uma prova de programação; era um teste de adequação ao padrão. Se me pedissem para programar alguma coisa, eu não saberia por onde começar, e todos os meus colegas já haviam programado. Mas o tipo de questão da prova não estava avaliando se a pessoa sabia programa. Estava avaliando quem se encaixava no sistema e respondia o que a professora queria.


Eu, ciente de que não dominava programação, decorei por alguns minutos antes da prova o que tinha na apostila e respondi o que era esperado. Minha nota não demonstrava o quanto eu sabia, nem o quanto os meus colegas -- alguns dos quais eram programadores -- sabiam. Mais do que isso. Alguns deles eram “programadores natos”, tinham talento para aquilo, mas tiraram notas menores que a minha, o que não refletia o conhecimento nem o talento deles. Talvez eu tenha mais talento do que eles, mas a prova também não estava medindo meu talento. Estava medindo apenas a conformidade com o sistema e a “capacidade” de repetir o esperado.


Essa experiência desmascarou, de forma inquestionável, o que venho sustentando: o sistema não premia a inteligência. Premia a docilidade! Os verdadeiros conhecedores, que poderiam explicar com profundidade e clareza o funcionamento de um algoritmo, foram penalizados por não saber jogar o jogo da superficialidade. E eu, que mal sabia programar, fui recompensada por saber “fingir” que sabia.


Cursei toda a disciplina sem aprender de fato quase nada, fui aprender a programar anos depois, de forma autodidata, quando eu me interessei pelos recursos que eu poderia desenvolver.


Há diferenças importantes entre “inteligência” e “conhecimento” e “experiência”. Usei esse exemplo com conhecimento para ilustrar, porque é análogo ao que fazem no caso da inteligência. O conhecimento e a experiência podem ser adquiridos com relativa facilidade, enquanto a inteligência é algo muito mais complexo e elevado, está relacionada à maneira como se utiliza o conhecimento para resolver problemas e para muitas outras finalidades. Duas pessoas com mesmo tempo de experiência e mesmo conhecimento sobre determinado assunto podem ter performances muito diferentes devido à diferença na inteligência. Mesmo com menor conhecimento e menos experiência, a pessoa mais inteligente pode encontrar soluções mais eficazes, mais econômicas e em menos tempo. Um exemplo é o IMCH, que o Hindemburg resolveu, um problema que estava sendo “resolvido” incorretamente há mais de 170 anos, por milhões de especialistas, e mesmo ele não sendo especialista na área e conhecendo só o básico sobre o assunto, enxergou uma solução que nenhum especialista havia enxergado.


No caso dos programadores, todos eles tinham muito mais experiência e mais conhecimento do que eu, e o objetivo da prova, em teoria, era (ou deveria ser) medir esse conhecimento, medir o domínio na área, mas falhou gravemente, porque eu acabei tendo a nota mais alta, embora eu fosse a pessoa com menos conhecimento entre as que foram avaliadas. É importante esclarecer mais uma coisa: embora eu fosse inteligente, não foi por isso que tirei a nota mais alta. Foi porque eu aceitei memorizar e repetir o que eles queriam e dei as respostas que esperavam, enquanto os programadores muito mais competentes do que eu em programação naquela época receberam notas injustas. Nesse exemplo eu fui beneficiada injustamente, mas em muitos casos eu fui prejudicada, como numa prova de laboratório de Química, que relatarei numa outra oportunidade.


O que eu gostaria de deixar claro é que as provas não medem aquilo que deveriam. As pessoas com as melhores notas não são as mais capacitadas para aquilo que supostamente deveriam ser. E isso tem muitas consequências graves.


É comum que pessoas com alto QI, incapazes de se submeter ao pensamento linear e restritivo, apresentem desempenho apenas mediano em provas padronizadas. Não por falta de capacidade, mas por excesso de visão. Enquanto outros veem uma linha reta, essas mentes veem uma rede de possibilidades. Onde se espera uma resposta única, elas encontram complexidade e pluralidade, e por isso são penalizadas como meus colegas que eram muito bons programadores, mas pontuaram muito abaixo do esperado em uma prova que não media o que deveria medir.


Talvez você, leitor, seja uma dessas pessoas. Talvez sua trajetória tenha sido marcada por essa mesma frustração: ver além e ser punido por isso. Talvez tenha sido condicionado a acreditar que não era suficientemente bom, porque suas notas não refletiam sua mente.


Conhecer o próprio QI não é uma questão de vaidade, mas de clareza, sabedoria e autoconhecimento. É uma forma de conhecer seu nível intelectual em relação ao das outras pessoas e ter elementos objetivos para julgar se, quando você discorda da maioria das pessoas, é porque você está errado ou a maioria é que está errada. Nossa sociedade geralmente se inclina a concluir que a maioria tem razão, mas muitas vezes isso é falso. A maioria tem nível intelectual próximo da média, por isso quem está acima da média pode ter uma visão mais correta e mais profunda que a maioria. Nesse cenário, conhecer o próprio QI é uma forma de validar sua percepção de mundo, de libertar-se da prisão de um sistema que não foi feito para você.


Ao entender suas capacidades, você poderá, enfim, parar de medir-se por escalas alheias e muitas vezes distorcidas. Poderá se basear numa medida científica e perceber que o problema nunca foi você – foi a régua torta usada para medi-lo(a).


A escola “ensina” a repetir, mas não a pensar. Por isso quando alguém pensa demais, tropeça nos obstáculos que o sistema lhe impõe. Mas talvez o tropeço seja o primeiro passo para um caminho que os outros jamais verão. Talvez esteja na hora de deixar de se esforçar para dar as respostas que agradam e começar a questionar se as perguntas fazem sentido e quais devem ser as respostas verdadeiramente corretas.

 

Leia o "GUIA DOS APODÍCTICOS"

Descubra seu QI em 40 minutos "SIGMA TEST FAST"

bottom of page