Brasileiros e portugueses membros das sociedades de elevado QI mais seletivas do mundo
Por Hindemburg Melão Jr.
O conceito de “inteligência” é quase tão antigo quanto a linguagem. Provavelmente nossos ancestrais criaram primeiramente palavras para representar objetos materiais, como pedras, plantas e animais, para depois criar palavras que representam sentimentos, processos, predicados e entidades abstratas. Mas o intervalo entre o surgimento das primeiras linguagens e o surgimento de uma palavra para representar o nível de habilidade intelectual não deve ter sido muito longo.
Apesar de “inteligência” ser um conceito tão antigo, continua não havendo consenso sobre qual é seu significado exato. Por outro lado, o fato de não sabermos determinar exatamente e completamente o que é a inteligência não nos impede de estudá-la, exercitá-la e até mesmo medi-la.
Por exemplo: não se sabe exatamente o que é uma laranja. Se tivéssemos que descrever uma laranja para um alienígena que nunca tivesse vindo à Terra, essa dificuldade ficaria evidente, porque uma laranja não é exatamente uma esfera, os sabores azedo e doce seriam dificílimos de explicar, sem contar que talvez os alienígenas nem tivessem paladar, olhos e outros órgãos sensoriais similares aos nossos. A cor predominante refletida pela laranja, quando iluminada por raios solares ou por luz artificial, com distribuição espectral similar à distribuição espectral do Sol, com pico perto do comprimento de onda de 589 nm, não seria a mesma e nem sequer seria semelhante se a laranja fosse iluminada pela luz de uma estrela de outra classe espectral, onde morasse tal alienígena. Talvez a laranja nem sequer fosse visível para eles, ainda que eles possuíssem olhos ou órgãos equivalentes aos olhos, mas com cones e bastonetes sensíveis a um intervalo diferente da luz visível. Seria improvável que tivessem olhos com sensibilidade numa faixa diferente da luz visível porque quase todas as outras estrelas emitem boa parte de sua luz na faixa visível, pois embora essa seja uma faixa estreita, parece ser predominante no Universo conhecido. Contudo, embora fosse improvável, não poderíamos descartar essa hipótese. Talvez fosse até mais fácil explicar a esse E.T. o que é inteligência, sob nossa perspectiva, do que explicar o que é uma laranja, porque o conceito de “inteligência geral” ou fator g de Spearman é provavelmente algo mais universal do que uma laranja. Provavelmente o E.T. nunca teria visto uma laranja, mas se ele tivesse uma linguagem sofisticada para se comunicar, ele teria inteligência e teria sua própria interpretação do conceito “inteligência”, logo ele só precisaria identificar alguns pontos-chave de nossa explicação para associar com o conceito que ele próprio teria de “inteligência”.
Embora não saibamos exatamente o que é uma laranja, podemos medir seu perímetro, sua massa, determinar sua cor, sua acidez, conseguimos distinguir uma laranja de uma cadeira ou de um lago. Portanto, mesmo sem que saibamos exatamente o que é inteligência, conseguimos distinguir razoavelmente bem o que é um comportamento inteligente e conseguimos ranquear diferentes níveis de inteligência: um rato é mais inteligente que uma bactéria, um elefante é mais inteligente que um rato, um humano é mais inteligente que um elefante. Entretanto as comparações ficam mais difíceis quando as diferenças são mais estreitas. Não é fácil determinar se um cachorro é mais inteligente que um gato ou vice-versa, se um gorila é mais inteligente que um elefante ou que um golfinho, se um cavalo é mais inteligente que outro cavalo. Mas essa dificuldade subjetiva pode ser resolvida quando se introduz métodos objetivos de análise. Olhando para duas pessoas com corpos semelhantes, é difícil saber qual dela é a mais pesada, mas utilizando um instrumento de medida apropriado -- uma balança –, pode-se obter essa informação. Se a diferença de peso for muito pequena, menor que 1%, talvez a balança também não seja suficiente, dependendo de sua precisão, sua acurácia, sua repetibilidade e de alguns fatores extrínsecos, como variações na densidade do ar, com consequentes variações no empuxo, o efeito de maré no instante que cada uma delas for pesada, entre outros fatores. Além disso, a massa das pessoas varia ao longo do tempo, por transpiração, evacuação, alimentação, a densidade das pessoas varia quando estão com os pulmões cheios ou vazios. Como consequência, duas pessoas com pesos semelhantes poderiam ter pesos diferentes se medidos em dias diferentes ou em horários diferentes, a tal ponto que algumas vezes uma delas poderia ser mais pesada, outras vezes mais leve.
No caso da inteligência, a situação é semelhante sob vários aspectos. Não se sabe exatamente o que é a inteligência, mas se tem uma ideia bastante razoável do que ela é e do que ela não é. Não se confunde inteligência com coelhos, nem com buracos. Num nível mais refinado de distinção, não se confunde inteligência com perfume nem com beleza. Num nível ainda mais refinado, não se confunde inteligência com memória nem com cultura, entretanto, quando se chega nesse nível de similaridade, a memória e a cultura já começam a se mostrar suficientemente semelhantes à inteligência para que interfiram nela, ou pelo menos interfiram nos resultados das medidas que se tenta fazer da inteligência, “contaminando” esses resultados, por assim dizer. Dependendo da interpretação que se faça, pode-se dizer que a memória e a cultura são componentes da inteligência, especialmente a memória de trabalho, que é a capacidade de administrar simultaneamente grandes volumes de dados.
Cientes dessas dificuldades e limitações, podemos agora falar um pouco sobre medida da inteligência. Os testes de QI corretamente normatizados são os instrumentos psicológicos que seguem com mais rigor e diligência todos os protocolos do método científico. Como resultado disso, os diagnósticos baseados em testes de QI são mais confiáveis do que qualquer outro diagnóstico realizado em Psicologia.
Um fato que poucos sabem é que os testes de QI produzem resultados mais acurados do que os métodos utilizados para cálculo das distâncias de galáxias, ou os métodos usados para calcular as massas de algumas partículas subatômicas (quarks, neutrinos etc.), ou os métodos para cálculos de riscos de prejuízo realizados pela maioria dos grandes bancos. São inclusive muitíssimo mais acurados que as estimativas de risco de acidente feitas pela NASA, conforme demonstrou o Nobel de Física Richard Feynman, durante a investigação do acidente do ônibus espacial Challenger, em 1986.
Isso não significa que os testes de QI estejam livres de falhas. Não estão. Mas se comparados a outros instrumentos de medida utilizados em Física, Química, Meteorologia, Astronomia, Econometria, Sociologia, Antropologia, Medicina e Educação, a confiabilidade nos resultados produzidos pelos testes de QI fica acima da média da dos instrumentos utilizados nessas áreas, inclusive são mais confiáveis que a maioria dos exames laboratoriais nos quais os médicos se baseiam para avaliar o estado de saúde das pessoas. Quem tiver interesse em se aprofundar nesse tema, pode ler meu livro “IMCH – uma análise matemática dos erros na fórmula de IMC”. O livro não trata apenas de IMC, mas de vários tópicos científicos, aponta alguns problemas em grandes bancos de dados internacionais utilizados em Medicina, e apresenta uma nova fórmula para cálculo de IMC, mais acurada e mais bem fundamentada que a tradicional.
Os primeiros testes de inteligência de que se tem registro começaram a ser usados na China, por volta de 3.000 a.C., mas naquela época não se conhecia praticamente nada de Estatística nem de método científico, por isso aqueles testes não eram normatizados nem seguiam os protocolos adotados nos testes modernos. Esses protocolos servem para assegurar que a variável medida pelo teste seja de fato fortemente correlacionada com a inteligência, para assegurar que todos os itens do teste medem aproximadamente a mesma variável, para assegurar que os escores obtidos em duas metades aleatórias do teste sejam semelhantes, para assegurar que o mesmo teste aplicado alguns dias ou meses depois produza resultados semelhantes aos da primeira aplicação, para assegurar que testes diferentes destinados a medir a inteligência geral produzem resultados semelhantes para a maioria das pessoas examinadas. Há uma lista de cuidados que são tomados no processo de construção de um bom teste de QI, para garantir que os escores produzidos sejam boas representações daquilo que se pretende medir.
Além disso, a base teórica sobre a qual os testes de QI foram concebidos é solidamente amparada no método científico, mais do que qualquer outro constructo da Psicologia. O criador dos primeiros testes de QI, Alfred Binet, partiu da premissa que a inteligência humana aumenta com a idade, pelo menos entre o nascimento e a idade adulta. Em seguida, ele elaborou questionários com perguntas nas quais tentou minimizar a exigência de conhecimentos especializados e priorizar o uso do raciocínio lógico, tão livre quanto possível de fatores culturais. Esses questionários foram aplicados a grandes grupos de crianças, adolescentes e adultos de diferentes faixas etárias. Depois comparou o número de respostas certas com as idades, e confirmou sua hipótese de que o número de acertos aumentava com a idade. Em média, as crianças de 8 anos acertavam mais questões que a média das crianças de 7 anos; enquanto a média das de 9 anos acertava mais que a média das de 8 anos e assim por diante, até cerca de 16 anos. A partir de 16 anos parecia não haver mais aumento no número de acertos em função da idade. Em pesquisas mais abrangentes realizadas nos anos seguintes, verificou-se que talvez esse limite fosse aos 17 anos, em alguns casos chegando aos 19 ou 20 anos, mas a curva de crescimento não era linear, e quando beirava aos 16, a pessoa já havia chegado bem perto de seu nível máximo de desenvolvimento mental, com pouca evolução nos anos e décadas seguintes.
Binet notou também que embora a média das crianças de 12 anos acertasse muito mais que a média das de 8 anos, havia algumas crianças de 8 anos que acertavam mais que a média das crianças de 9, 10, 11 e até 12 anos. Também acontecia o contrário, isto é, algumas de 12 anos acertavam menos que a média das de 8 anos. Com isso, surgiu o conceito de “níveis mentais”, que depois recebeu o nome de “idade mental” e finalmente recebeu o nome de “quociente de inteligência”, abreviado para “QI” ou “Q.I.”. Foi assim que o termo “QI” começou a ser utilizado para representar a proporção entre a idade mental e a idade cronológica. Uma criança de 8 anos com idade mental de 12 anos teria QI = 100x12/8 = 150. Aplicando a mesma fórmula, uma criança de 8 anos com idade de 14 teria QI 175. Acima de 16 anos já não faz muito sentido falar em idade mental, porque pessoas com 40 anos e 16 anos acertam aproximadamente mesmo número de questões.
Quando essas crianças com QI elevado se tornavam adultas, podia-a aplicar testes a elas e verificar quantas elas acertavam, assim podia-se atribuir escores de QI para adultos também, com base no QI que havia sido medido para essas pessoas enquanto elas ainda eram crianças, assumindo que elas continuaram se desenvolvendo intelectualmente no mesmo ritmo da média das outras crianças e assumindo que a evolução fosse aproximadamente linear. São duas premissas razoáveis, não são exatamente corretas, mas estão próximas da realidade, conforme se verificou em estudos realizados nas décadas seguintes.
Outro ponto que precisa ser esclarecido é qual foi a motivação de Binet para criar esses testes. Um problema muito comum nas escolas francesas daquela época, assim como nas escolas de todos os países de todas as épocas, é que frequentemente os professores simpatizavam mais com alguns alunos do que com outros, e tendiam a privilegiar seus alunos favoritos com notas mais altas. Num período no qual o racismo era muito mais grave do que é hoje, esse era um grande problema, porque em todas as avaliações subjetivas os professores costumavam prejudicar os alunos dos quais eles não gostavam, e frequentemente o motivo pelo qual não gostavam era simplesmente a aparência do aluno. Nem sempre o problema era o racismo. O professor podia simplesmente não gostar da fisionomia do aluno, ou o professor podia ser antissemita, ou podia ser misógino, entre outros motivos. Foi assim que Einstein foi considerado retardado por um de seus professores, e Thomas Edison também foi subavaliado por seus professores, foi assim que Henrietta Leavitt, Cecilia Payne e outras mulheres foram subavaliadas e seus méritos não foram devidamente reconhecidos.
Diante desse problema, Binet decidiu criar instrumentos de avaliação que pudessem medir objetivamente o desempenho intelectual das crianças, para evitar que fossem tratadas de forma injusta e abusiva por seus professores. Infelizmente os testes de QI não são suficientes para evitar todos os abusos, nem podem impedir comentários ofensivos contra alunos menos privilegiados intelectualmente ou economicamente, nem evitar as agressões físicas e verbais que os professores costumavam praticar contra os alunos. Os testes de QI serviam apenas para aliviar uma parte dos problemas que existiam na época, e não era uma parte pequena, porque era comum crianças muito inteligentes e introvertidas serem colocadas em salas para deficientes, pelo fato de elas não se comunicarem muito, e isso causava danos irreparáveis não apenas para essas crianças, mas para a sociedade como um todo, já que se elas tivessem oportunidades adequadas para se desenvolver poderiam contribuir para a cura de doenças, para soluções de problemas sociais, tecnológicos e muitos outros.
Uma questão que também precisa ser esclarecida é: mas não deveriam ser oferecidas oportunidades a todas as crianças, em vez de oferecer só às mais inteligentes? E a resposta é muito simples: sim, mas oportunidades boas para todos não significa oportunidades iguais para todos. Algumas crianças não querem nem tirariam proveito de uma “oportunidade” para aprender Cálculo Integral, enquanto outras não aproveitariam nem teriam interesse em aprender a tocar harpa, outras não teriam interesse em aprender a construir mesas de madeira etc. O que é considerado “oportunidade” para alguns pode ser um “castigo” para outras.
Dando continuidade aos trabalhos de Binet, nos anos 1930, David Wechsler passou a utilizar um método diferente para padronização dos escores, com base no nível de raridade de pessoas que alcançavam determinado número de acertos. Com isso, solucionou algumas distorções e alguns problemas que estavam sendo observados no método antigo, porém essa solução introduzia novas distorções. Não é nosso propósito aprofundar a análise da história dos testes de QI nem analisar criticamente a qualidade dos métodos utilizados na aferição da inteligência ou a evolução desses métodos ao longo do tempo, mas apenas introduzir brevemente esses temas. Por isso quem tiver interesse numa análise mais detalhada poderá acessar esse link:
https://www.sigmasociety.net/artigos
No final dos anos 1990, com a popularização da Internet, as pessoas com QI muito acima da média, que até então viviam relativamente isoladas, por haver poucas pessoas geograficamente próximas com as quais compartilhassem interesses comuns, aproveitaram-se dessa oportunidade gerada pela globalização para criar comunidades destinadas a atender às necessidades e aos interesses de pessoas com esses perfis intelectuais diferenciados. Até então, havia apenas 15 sociedades de elevado QI no mundo, quase todas fundadas nos Estados Unidos, exceto Sigma Society, que foi fundada no Brasil:
Mensa, fundada em 1946
Intertel, fundada em 1966
ISPE, fundada em 1974
TNS, fundada em 1978
Mega, fundada em 1982 (registrada no Guinness Book de 1990 como a sociedade de elevado QI mais exclusiva do mundo)
Prometheus, fundada em 1982
TOPS, fundada em 1989
OATH, fundada em 1992
IQuadrivium, fundada em 1992
Giga, fundada em 1996
Glia, fundada em 1997
Colloquy, fundada em 1998
Sigma, fundada em 1999
Sigma VI, fundada em 1999
Pi Society, fundada em 1999
Nos anos seguintes, foram criadas várias outras, ultrapassando 100 sociedades para pessoas de elevado QI, das quais cerca de 70 estão atualmente ativas. As propostas variavam muito de uma para outra. As propostas de Sigma Society eram estas (da imagem abaixo):
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A High IQ Society for Humanity, por exemplo, foi criada na Dinamarca por David Udbjorg para ajudar crianças carentes da África, onde ele passou a morar durante mais de 10 anos, proporcionando a essas crianças acesso à Educação e a alguns recursos tecnológicos, que lhes oferecia perspectivas um pouco melhores para crescer socialmente e culturalmente. Infelizmente a High IQ Society for Humanity encerrou suas atividades por falta de recursos.
Durante o período em que High IQ Society for Humanity esteve em atividade, dediquei um tempo considerável aos projetos dessa entidade e fiz dezenas de doações (todas as taxas de filiação de Platinum Society, da qual fui presidente e fundador, eram direcionadas à HIQSH). Além disso, por meio de Sigma Society, organizei projetos de assistência às vítimas do tsunami na Indonésia em 2004, às vítimas dos desabamentos em Santa Catarina e Itajaí em 2007 e 2008, contribuí com a divulgação do projeto CliqueFome, com a divulgação dos pintores com a boca e com os pés (pessoas que não possuem os dois braços) etc., além de projetos individuais, realizados fora da entidade. Em Sigma Society foram oferecidos cursos gratuitos de Astronomia, Xadrez, Latim e Sânscrito, além de mais de 1000 artigos sobre diversos temas educacionais, científicos, filosóficos e culturais.
Em minha opinião, e nas opiniões de muitos amigos e colegas das principais comunidades de elevado QI, a inteligência não é um atributo para se vangloriar. É um presente divino que traz junto uma elevada dose de responsabilidade e deve ser usada com sabedoria. Por isso tento canalizar meu potencial para solucionar problemas relevantes em diferentes áreas. Algumas vezes não consigo obter resultados concretos. Outras vezes chego a obter bons resultados, como meu recorde mundial registrado no Guinness Book 1998, ou a inovação que apresento em meu livro “IMCH – análise dos erros matemáticos da fórmula de IMC”, no qual trago à luz uma solução para um problema que estava sendo abordado incorretamente há mais de 180 anos e estava prejudicando mais de 390 milhões de pessoas. Sou autor de uma nova métrica para risco de investimentos que foi considerada superior às métricas de William Sharpe (Nobel de 1990) e Franco Modigliani (Nobel em 1985), de acordo com avaliação publicada na revista mais bem reputada do Brasil nessa área. Aqui há uma lista com algumas de minhas contribuições: https://www.sigmasociety.net/hm
Alguns amigos e colegas das comunidades de alto QI também são ativos na produção intelectual e no engajamento em questões sociais, ambientais e educacionais. A seguir, apresento uma lista dos membros brasileiros e portugueses em algumas das principais sociedades para pessoas com elevado QI. Muitos deles também trabalham pelo bem comum e pela harmonia entre os povos.
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